Será?


Será que vale a pena arriscar? Será que vale a pena oferecer, mostrar o lado ferido, a lágrima que rola, a dor no peito, a verdade que lateja nos pensamentos, na carne viva transcritos em poesias, histórias, reflexões, devaneios, como nós definimos aqui? Reflito sobre isso a um bom tempo. Talvez antes mesmo de partorir este blog com Astréia. Será que sou realmente lido, entendido ou compreendido neste mundinho virtual cujo o interesse por si mesmo, como Narciso “que acha feio o que nao é espelho” fala mais alto que qualquer tipo de atitude que se possa definir gratuita, ou seja, sem grande interesse, sem esperar uma retribuição, uma gratificação meramente psicológica e por conseguinte passageira?

Indago-me sobre isso porque percebo que a maioria dos blogueiros, segundo minha opinião, que é fundamentada em uma vida de blogueiro de quase 3 anos, são egoistas. Isso mesmo! A maioria dos blogueiros são EGOISTAS! Pensam somente em seu blog, em uma visitinha mediocre no mesmo, em comentários vagos e frios como os famosos “Adorei” “Muito legal” "Você escreve bem” e depois acrescenta-se “passa lá no meu blog” e colocam o endereço. É exatamente por essa relação mercantilista entre blogueiros que me pergunto se realmente vale a pena expor-se, oferecer aquilo que para nós é “sagrado”, importante porque diz muito de nós mesmos para pessoas que no final das contas colocam em questão o que acabei de escrever, ou seja, se o que escrevo é o que penso ou se é falsidade, criação fria somente para atualizar o blog.

É dificil ler alguns comentários que não dizem nada ou dizem aquelas obviedades que saturam. E no final das contas me pergunto: escrevo realmente para ser comentado, aplaudido, elogiado? Acho que não. Não mesmo! Quando publico, existe esta tentação, não posso negar, mas realmente escrevo porque existe paixão, existe um fogo que arde dentro e que no final pede para ser partilhado. A escrita faz parte de minha existência, do meu viver. É, enfim, uma forma de traduzir o que existe aqui dentro e independentemente de comentários fúteis seguirei escrevendo, pois não fazê-lo equivaleria a negar a mim mesmo.



Você



Procurei você, mas não o encontrei...

Fragmentos seus rondam em meio ao caos em decomposição

Ruptura nos une.

Emoção nos envolve.


Procuro você entre as estrelas do céu...

Mas o céu se torna pequeno

tamanha ausência sentida.

Quero sentir o teu cheiro de papoula molhada.

Quebrar barreiras olfativas, auditivas e táteis.


Procurarei você em cada célula visceral.

Moléstias não me abalarão.

Ferimentos cicatrizarão.


Dormirei tranquila na desilusão.

Não me aborreça, nem me torne sã.

Prefiro sonhar...

a exalar meu último suspiro sem você.

Prefiro...

Assim prefiro!




Astréia

Gotículas



Gotículas transparentes escorrem pelos ombros nus
E eu vejo.
Ah, eu vejo!
É simples e belo.
As gotas escorrem ligeiramente
como riacho que tem preguiça de desaguar.
Mesmo assim seguem o caminho no corpo.
Vão em direção à fonte inesgotável
e eu navego nas gotículas.
Eu vou junto com as gotículas rumo à grande fonte.


Mas ao mesmo tempo tremo e temo

e volto

e vejo de longe.
Me excito
mas exito
me excito
mas exito
me excito
mas existo
e desisto...

Anticlímax
Antiêxtase
Antigozo

Ilusão



*Narciso*

Que coisa não!


Eu tinha uma coisa nojenta. Ela já apareceu há algum tempo. É a segunda fez que sou acometida por essa coisa. Da primeira fez eram duas, uma em cima e outra embaixo. Chegaram de mansinho, sorrateiras, de cor avermelhada, duas bolotas. Doía algumas vezes, e outras não. A superior era maior que a inferir. No início eu as tratava muito mal, nem dava atenção a elas, pensava que iriam sumir, desaparecer com o tempo. Doce ilusão, o tempo foi passando e nada. Vieram para ficar, marcar território. Invadiram uma parte específica do meu corpo, penetrando na minha vaidade e diminuindo a minha altoestima. Bateu a preocupação e a angústia.

A coisa destruiu o meu olhar com outro olhar. Não escolhido nem convocado. Fui ao especialista no assunto e ele receitou medicamento via oral, pomada e compressa morna, três vezes ao dia e nada de surtir efeito. Resultado, bisturi sem pontos e olho recauchutado, pelo menos por um ano. Pois eis quem bate a minha porta novamente? Ela mesma, a coisa, agora, só um superior. Tive que responder as mesmas perguntas tipo: O que é isso no seu olho? Você negou algo a uma grávida? Isso pega? Tinha que explicar várias vezes o problema e a causa. Pensei até em fazer uma gravação. “Não, não é um terçol é um calázio, parece um terçol mas não é. Terçol tende a sumir em alguns dias e o endemoninhado do calázio persiste em grudar na pessoa e não querer ir embora nem com reza forte. Em sua maioria só sai na base da faca, ou melhor, da cirurgia.

A experiência da primeira cirurgia foi tranquila a única coisa chata foi uma sensação ruim do anestésico, de que algo como um calafrio passava no meu corpo até o baixo-ventre. No mais, nenhuma dor!

Saio da sala de cirurgia com um enorme tampão que quase encobre totalmente o meu pequeno e delicado rosto e com a curiosa e terrível sensação de que por baixo dele tinha sangue abafado aos montes escorrendo. Para a minha surpresa, com a retirada do tampão após 24 horas, descobri que não havia sangue nenhum, apenas uma pequena mancha rocha na parte inferir como se eu estivesse me machucado. Tempos depois, descobri que não foi espancamento ou coisa do tipo, mas uma ferramenta utilizada na cirurgia para pegar o calázio e retirar a secreção que fica dentro dele.

Pois bem, essa é a história da primeira cirurgia da minha coisa chamada Calázio, uma coisa chata que insiste em conviver no meu pé (olho) sem ser bem-vinda.



Astréia

Sei



As palavras não cessam mais.
A garganta não se cansa.
Os ouvidos também não.
Por quê?
Não sei.
Estou farto de não saber!

Neste dia nublado prefiro o silêncio
dos montes interiores de meu coração.
O não dito diz tanto!

Devo voltar ao inaudível, ao inefável
para poder reencontrar
algo que não sei o que
mas que sei que sou.



Narciso


Periclitante



Tenho problemas...

Problemas comuns e incomuns

Problemas iguais aos seus

Problemas só meus.


Tenho motivos para os meus problemas

Dou motivos aos meus problemas

Motivos banais

Motivos fatais

Motivos necessários e desnecessários

Motivos...

Tenho um quê de morbidez desafiante

Uma sensatez estonteante

Uma languidez pulverizante.


Tenho sua imagem em meus pensamentos

Você se faz presente em minha agonia

Você é minha agonia

Agonia minha...

Minha

Agonia

Minha doce

agonia!

Agonia!

M

I

N

H

A




Astréia

Poema paródia


Este poema
Não é mais que um poema
Não é uma confissão amorosa
Pegajosa
Nem procura simetria
Pra disfarçar um sentimento misterioso
Te quero, te quero
Mas, às vezes, não

A tua presença
Nem sempre percebo
Se morreria por ti?
Só se estivesse louco
Na solidão
Eu vejo os teus olhos
Por isso tenho que dizer
Te sinto, te sinto
Mas,às vezes, não

Quando não te vi
Me senti desperto
De um sonho milenar meio incerto
A minha veste
Impede teu instinto torto
De abrir meu peito e de me acumular
De amores, de amores
Mas, às vezes, não

Se num instante
Eu me sinto vencedor
Eu me apodero do céu luminoso
Gritando incrédulo
O que não aprendi contigo
Cerro meus olhos, mas ainda contemplo
Teu rosto, teu rosto
Mas,às vezes, não
Teu rosto
Mas, às vezes, não
Mas, às vezes, não



Canção/Inspiração: www.youtube.com/watch?v=zidwJlqBYws&amp


>Narciso<