O retorno de Astréia



Aquela que triste se foi logo voltará
Subitamente encherá de inaudita alegria esta
Terra de corrupção, de rancores tolos
Reorienterá o coração da humanidade com sua luz
E com simplicidade nos incitará a voar rumo ao
Infinito, onde ouviremos, em meio ao êxtase ozônico palavras doces…
Amor, ternura, paz, justiça, Amor…




Inspiração


Narciso




O narciso que vive em mim,

vive a vomitar os meus segredos.

Penso, ele me possui

Sou sua alma irmã

Seu sono mais profundo

Sua carne viva



O narciso que vive em mim,

vive em você também.

Penso, ele me digere

Sou sua ferida podre

Seu escarro gotejante

Sua boca mordida



O narciso que vive em mim,

ah...vive a me enfurecer.

Penso, ele é meu.

Sou sua dona

Seu redemoinho em fúria

Sua emoção sentida



O narciso que vive em mim,

vive só.

Penso, ele é meu eu

Sou sua solidão

Seu sofrimento bravio

Sua mais íntima visão



O narciso que vive em mim,

vive vivendo.

Penso, ele é sem noção

Sou sua dopamina

Seu adágio impróprio

Sua panacéia viril



O narciso que vive em mim,

vive a me sufocar.

Penso, ele é risco

Sou sua devassidão

Seu lado obscuro

Sua necessidade mórbida



O narciso que vive em mim,

já se foi.

Penso, ele não existe

Sou sua ilusão

Seu pensamento vagante

Sua real imaginação

Poeta



Poeta não tem sexo, cor, idade

Não tem sexual opção

É casto, mas também puta

É santa, mas também pagão.

Vive de contemplar emoção.

Não é louco, mas luta com moinhos

É uma, mas também um milhão


Vai ao inferno, purgatório, paraíso

Guiado pela beata luz

É anjo torto e de exuberante claridão.

Poeta se faz e desfaz a cada instante


Nas mãos da amada de Ítaca

Esperando o retorno do Amor

Às vezes rima coração com paixão

Mas às vezes não rima

E grita

E grita

Ao amor que nunca teve.

Poeta às vezes é destino

Outras vezes condenação

Mas nunca profissão


É presente, é dádiva

simplicidadade e ostentação

Tantas vezes é anônima

Unicamente heterônimo

E às vezes gloriosa exaltação

É tristeza de mar


Ruído de grilo

É a qibla da oração.

É humana divinização


E o contrário também

É tudo isso e imensidão

E palavra não dita

E poema não feito

Indefinição.