Fim antes do fim


Sentado em sua cadeira
a meditar sobre a vacuidade da
existência,
sobre a inexorabilidade
do tempo,
do vento,
e a ausência
de chuva,
de sentido,
de riso
ele persiste,
alheio,
triste,
inerte,
como um rei não esclarecido,
que espera a notícia
da vitória na batalha
e mal sabe da carnificina
a se aproximar,
dos abutres,
dos odores,
do verme,
da Morte personificada,
que friamente constata,
não escondendo a alegria,
ao exteriorizar os dentes lívidos,
com a foice empunhada:
“Antes do fim, eu venci”. 

1 comentários:

Saudades de interpretar os seus poemas. De ir ao encontro mais íntimo dos teus sentimentos. Saudade de chegar e não mais sair, de ficar, demorar, e quem sabe fazer morada. De esmiuçar o seu coração, aprofundar-me nas suas vicissitudes malogradas de dores, percalços, e vislumbrar, mesmo que apenas uma ínfima partícula de luz, escamoteada em linguagem hiperbólica. Vontade que proporciona lembranças, vivências e acontecimentos eternizados pelo tempo.

Meu querido, muitos poetas falam sobre a temática da morte, e você como bom poeta, não poderia ser diferente. Segundo o escritor espanhol, Francisco de Quevedo: “O que chamais de morrer é acabar de morrer. E o que chamais de nascer é começar e morrer. E o que chamais viver é morrer vivendo.” Morremos todos os dias ao nascer de cada novo dia. Enveredar-se na morbidez simbólica, na personificação da morte, propicia-nos entrever as subjetividades humanas.

O poema é triste e melancólico, revela sensações que envolvem questões existenciais, as nossas mais profundas dores, encobertas pelo marasmo da espera de algo que não chega. Talvez a espera do inesperado, mas a vida tem seus revezes, e o inesperado pode nos surpreender, nos sufocar, emudecer, aprisionar ou libertarmos. Isso vai depender de como olhamos para ele. Ou seria, ela (morte)? Da forma como abraçamos nossos sonhos, vivenciamos nossas utopias, construímos castelos, desmembramos fortalezas ou criamos laços. Isso não importa, o que importa é que “Antes do fim, eu venci”. Antes do fim “eu sou consumido” em Ti, e “verei o sol banhar-te de esplendor”. Eu “jamais te esquecerei”, os “instantes que passou...”, “escorrem por entre os dedos”, mas “vou me lembrar de você para sempre”. Sempre que “o meu coração se faz deserto, “te cantarei com ardor infinito”, “pois algo novo nascerá”, “mesmo que seja apenas por hoje”, “mesmo que seja para dizer adeus”, “mas só por mais cinco segundos, meu Amor, imploro: Fica!”.

Frases retiradas dos respectivos poemas de Narciso Anídrico: Fim antes do fim, Em Ti, Prelúdio, Jamais, Lembranças, Pensamentos, Para sempre, Meu coração se faz deserto, Saiba, Novo, Hoje, Amor Indiferente, Fica.