
De repente, percebemos que as coisas
não são como pensávamos.
Percebemos que a mamãe não é uma heroína
ou uma santa que idealizávamos.
Que ela erra, mente, peca.
Percebemos que podemos sorrir quando não desejamos.
Percebemos que podemos abraçar pessoas que odiamos.
Percebemos que aquela pureza de outrora
desapareceu depois de algumas idas e vindas pelo mundo.
Percebemos que o mundo não começa em nós,
Que não somos o centro do universo.
Percebemos que falar na primeira pessoa do plural é mais fácil,
pois escamoteia alguns sentimentos de um eu escondido na coletividade
falsa e alegremente imaginada por todos para isso mesmo.
Percebemos a dor do semelhante,
o choro de uma criança,
o olhar envelhecido da mesma mamãe,
a dor indolor do tempo,
e o sentimento de que de agora em diante
carregamos o mundo nas costas.