Trivial



Você gosta dos mesmos lugares
Daquela cadeira estofada indelicadamente
Dos mesmos filmes
De ouvir infinitamente aquelas canções
De amor
De perda
Você é tão previsível
Seu olhar
Seu riso tímido
Suas atitudes
Até suas exaltações
E incrivelmente eu amo
Amo tudo isso em você
Amo tudo isso que é
Você
Eu amo
Me surpreendo com a constatação
Eu, tão volúvel
Amando o óbvio e corriqueiro
Em você
Que é você
Meu bem, o amor tem suas
Eternas e belas contradições.
Estou aprendendo ao te aprender...

Você em mim





Acabo de pensar em nada
E o tudo me veio a reboque    
Estou só no mundo, parada
Sou vento perdido do norte

A roda da vida engendrada
Caminha sem rumo no mundo  
Procurei sair na chegada
Cai em um buraco profundo

 Acabo de pensar em nos dois
A parte do todo separada 
Sua face coberta de brio
Na fome ainda não saciada

Descubro você em mim
Duas odes no alarido alado
Percebo o começo do fim
Dois amores eternizados

À espera da poesia


Papel vazio.
Eis o mistério!
Eis a questão!
A ânsia anterior à escrita.
Meu olhar, meus dedos são de pura expectativa.
Como a criança que fui e ainda sou -
sentada no meio-fio,
da rua de calçamento
precário,
gritando o retorno da mãe,
 que cedo não viria – assim estou
à espera da poesia.

Olhar epifânico





Meu Deus,
que eu não perca
o olhar íntimo
das coisas triviais

Que eu saiba calar
quando se fizer necessário
emudecer o grito

Que minha pele
suporte as marcas
visíveis do tempo,
presa ao som do vento

Que eu possa
olhar o horizonte
e descobrir a Ti,
lá longe,
onde me encontro só,
onde um dia serei pó

Que o peso da minha dor
suporte carregar
o meu corpo convalescido
em misericórdia epifânica

Que eu saiba viver
e respirar no outro
um pouco de Você!


Fim antes do fim


Sentado em sua cadeira
a meditar sobre a vacuidade da
existência,
sobre a inexorabilidade
do tempo,
do vento,
e a ausência
de chuva,
de sentido,
de riso
ele persiste,
alheio,
triste,
inerte,
como um rei não esclarecido,
que espera a notícia
da vitória na batalha
e mal sabe da carnificina
a se aproximar,
dos abutres,
dos odores,
do verme,
da Morte personificada,
que friamente constata,
não escondendo a alegria,
ao exteriorizar os dentes lívidos,
com a foice empunhada:
“Antes do fim, eu venci”. 

O poema que eu não sei


O poema que eu não sei
Nasce sem saber
Rima na esquina
Chama e desatina
Vem do apagão a me lumiar
Some no clarão para eu chamar

O poema que eu não sei
Beira a exaustão
Chega de mansinho
Sem saber que é ninho
Ousar não falar
Diz sem perceber
Fala sem querer

O poema que eu não sei
Flui igual melaço
Surge de carinhos
Feito de pedaços
Canta o amor
em um só compasso

O poema que eu não sei
Cheira a você.

Ela


Ela tem cabelos leoninos
sorriso manso
olhar felino
anda como se já soubesse o caminho.
Ela não tem medo
de qualquer empecilho
olhando o infinito
desafia o próprio destino.
Nos dias de fúria urra
destroça os ídolos do coração
até que tudo vire cinza
para sua ressurreição.
Nos dias de dúvida
se agarra à única certeza
morte/vida/amor
até que tudo vire beleza.
Ela é lindo, lindo
e vai seguindo
indo, rindo
como se já soubesse o caminho.




No vento há brisa,
Meus pés molhados na grama,
Perfume fatal.

Fundo



No fundo, bem lá no fundo, deve haver esperança,
Sorrisos que suplantam as lágrimas que jorram na superfície,
O "foram felizes para sempre" que a tristeza vigente desdiz.
No fundo, bem lá no fundo, deve haver um poço
que saciará a nossa sede de justiça - não de vingança -
de amor, de saudade, do aconchego do lar.
No fundo, bem lá no fundo, veremos que somos irmãos.
E não haverá mais discriminação, nem guerras ocas,
nem fronteiras imaginárias.
Os mapas desaparecerão.
No fundo, bem lá no fundo, deve brilhar uma luz,
que afugentará o desbotado medo.
E veremos as coisas com mais nitidez,
e assim também seremos vistos.
No fundo, bem lá no fundo, o fundo nem é tão fundo.
Nem tão longe.
É só abrir bem olhos,
deixar de amar as correntes que nos impedem de
levantar, erguer a cabeça
e alçar O voo.
E o fundo jorrará na superfície,
transfigurando nosso mundo,
nossas vidas,
nossos sonhos.
E o banquete da alegria, como diz a profecia,
estará sempre começando.
Eu vejo, prevejo, anseio:
Sorrisos entre brindes, gargalhadas de meninos,
e uma luz tão nostálgica e familiar a nos envolver.
Amém.


Sinal



Tiraram um pedaço de mim...
Um pedaço de mim está suspenso em algum lugar.
Ele sou eu?
ou
Eu sou ele?
Não, somos um?
Somos dois em um!
Ou melhor,
Éramos.
E eu, faço falta para ele?
Ao certo ele sente a necessidade da junção do todo que agora é parte
Do outro pertencente a ele e agora não mais
Da derme viva na epiderme hoje morta
Do buraco cindido
Da sutura acertada.

Minha outra parte
Meu sinal cárneo
Um sinal que sinalizava algo
Uma marca já pronunciada.

Tiraram um pedaço de mim...


5 anos



Já podemos contar nos dedos de uma mão a caminhada traçada no nosso blog. São cinco anos juntos, compartilhando para todos nossas Palavras e Devaneios. Que a inspiração nunca falte. Melhor ainda, que possamos encontrar na própria falta uma infinidade de possibilidades para exteriorizar o que habita dentro de nós.

Que, habitados pela Poesia, sigamos a jornada da inspiração até chegar o dia em que contar os anos nos dedos das mãos - e quem sabe dos pés - já não será suficiente. 

Obrigado aos seletos leitores que aqui aparecem e Vida longa ao Blog!

Errei


Errei.
Eu sei.
Mas tentei.
Desculpa esfarrapada?
Não.
Sinceridade
nua e crua.
Inda que inocente
(tola?).
O que resta
Se não continuar?
E continuando
 de passo em passo
Vislumbrar
Que a perfeição
É mera coleção de
imperfeições.

Errei.
Eu sei.
Mas não desisti.
Isso não é otimismo
Oco.
É gana.
Força.
Riso.

Errei.
Eu sei.
Levantei e
Segui.