Fundo



No fundo, bem lá no fundo, deve haver esperança,
Sorrisos que suplantam as lágrimas que jorram na superfície,
O "foram felizes para sempre" que a tristeza vigente desdiz.
No fundo, bem lá no fundo, deve haver um poço
que saciará a nossa sede de justiça - não de vingança -
de amor, de saudade, do aconchego do lar.
No fundo, bem lá no fundo, veremos que somos irmãos.
E não haverá mais discriminação, nem guerras ocas,
nem fronteiras imaginárias.
Os mapas desaparecerão.
No fundo, bem lá no fundo, deve brilhar uma luz,
que afugentará o desbotado medo.
E veremos as coisas com mais nitidez,
e assim também seremos vistos.
No fundo, bem lá no fundo, o fundo nem é tão fundo.
Nem tão longe.
É só abrir bem olhos,
deixar de amar as correntes que nos impedem de
levantar, erguer a cabeça
e alçar O voo.
E o fundo jorrará na superfície,
transfigurando nosso mundo,
nossas vidas,
nossos sonhos.
E o banquete da alegria, como diz a profecia,
estará sempre começando.
Eu vejo, prevejo, anseio:
Sorrisos entre brindes, gargalhadas de meninos,
e uma luz tão nostálgica e familiar a nos envolver.
Amém.


Sinal



Tiraram um pedaço de mim...
Um pedaço de mim está suspenso em algum lugar.
Ele sou eu?
ou
Eu sou ele?
Não, somos um?
Somos dois em um!
Ou melhor,
Éramos.
E eu, faço falta para ele?
Ao certo ele sente a necessidade da junção do todo que agora é parte
Do outro pertencente a ele e agora não mais
Da derme viva na epiderme hoje morta
Do buraco cindido
Da sutura acertada.

Minha outra parte
Meu sinal cárneo
Um sinal que sinalizava algo
Uma marca já pronunciada.

Tiraram um pedaço de mim...