Oração da felicidade



Felizes os desabrigados
que procurando abrigo encontraram proteção.
Os que esperam um dia viver na paz entre os irmãos.
Os pobres e humilhados que sabem partilhar o pão.

Felizes os dilacerados
que encontram alguém que lhes dê a mão.
Os espertos e malévolos que encontraram anjos a disposição.
Os encarcerados que esperam um dia a libertação.

Felizes os que sabem ser felizes
em meio a tanta escuridão.
Os ignorantes e os excluídos que encontram chão.
Os indigentes e os oprimidos de qualquer região.

Porém, mais felizes são aqueles
que na esperança de alcançar tamanha ventura
tem a plena consciência que só a encontrarão
se houver a troca e a comunhão.


Astréia

Templo


Não!
Ele não está na sinagoga.
Nem na austera mesquita.
Nem na suntuosa catedral.
Não está nos pagodes, nem nos templos hindus,
muito menos nas ruínas de templos antigos,
que as outras religiões não conseguiram suportar.
Ele habita no simples.
Ele mora em algo feito de carne e osso,
ou melhor,
num músculo-vermelho-vivo,
que lateja,
que pulsa,
que vive e revive.
O templo do Amor é o coração da humanidade.

A dor da ilusão



Minha alma dói a dor que deveras quem sabe um dia sentir.
O meu corpo geme a procura de uma saída desse cárcere ao qual me encontro.
Minha pele sangra a ferida não cicatrizada do meu ente.
Meu coração sente a falta do que nunca tive e que hoje acabo por perder.
Doce ilusão amargurada, viver de ilusões.

Sinto-me pobre, desfigurada, em busca de um consolo inconsolável.
Penso alcançar a ilusão procurada dentre as tantas que procuro.
Vivo de ilusões.
Somente ilusões.
E que ilusões!
Vivo...

Vivo a ilusão de sofrer por amor...
No fantasmagórico mundo da ilusão e da dor.
Busco a saída em mim,
Mas de quê adianta?
Se encontro-me presa a minha própria moldura esculpida
Na ilusão eterna de meus dilemas e de meus sonhos...
Sou apenas uma alma sofrida que ainda não cicatrizou.



♥Astréia♥

As aves


As aves voam para onde querem.
Norte, sul, leste e oeste.
As aves sabem para onde vão.
Tem um mapa no coração.

Voam livre no infinito azul.
Quando pousam... não tem burocracia,
não precisam apresentar documentações.
Elas não possuem nacionalidade.
A nação das aves é o mundo.

O que sou?


Sou o que não sei definir,

Aquilo que mais me instiga e fascina,

O meu mais profundo estado letal,

A minha menos prodigiosa ilusão.

Sou o que eu ainda não fui,
A menina-dos-olhos,
A pupila dilatada,
A estrela encantada.

Sou o que eu ainda serei,

A vergonha escancarada,

A mulher despreocupada,

A inocente castigada.

Sou o que sou...

Não o que pensam que sou, nem tampouco o que fui.

Sou o acontecer contínuo...

Sou o percurso a caminhar entre nuvens,
feitas de gotículas de vida e partículas de átomos.

O outro


O outro é o outro.

Amo o outro porque é outro.
Eu sou eu.

O outro é o outro.

Não! Ele não é meu.

Ele não sou eu.

Não posso confundir.


O outro é outro e por isso brilha

e por isso merece toda a reverência.

A dádiva esta na diferença,

na invísivel distância

entre eu e o outro que me chama

e é chama

e me ama

e me seduz,

e me quer como irmão.

Preâmbulo


Fui incumbida da primeira postagem e confesso não saber ao certo por onde começar. Esse momento pode não ser o ideal, se é que o mesmo existe; o completo, pois sempre se terá algo a ser completado; o presumível, apesar de andar junto ao imprevisível. Mas para que tentar defini-lo, quero apenas senti-lo e compartilhá-lo. Anseios e dúvidas rondam os meus pensamentos, estou num misto de sensações diversas. A coragem, a “certeza” que me faz iniciar é saber ser o princípio, um caminho a percorrer.

Gosto, como todo ser humano curioso e des(equilibrado), do novo, apesar de temê-lo. Do des(controlado), da dúvida, da possibilidade de existir e resistir. Nesse caso, faça-me o favor de não me ver nas entrelinhas, me veja como sou, ébria de amor, de todos os tipos possíveis e inimagináveis, sábia de coragem, forte de alento, linda de desprezo, cândida de sabor, meiga de fervor, alma de mistério... Veja-me só, no que me é mais misturável. Na esponja com o sabão, no sabor agre-doce, no vinagre com limão, na farinha com o fermento, na história de Eva e Adão.


Meu outro ser que vive em mim não me conhece, entretanto, algo de mais forte e divino nos une, não saberia denominá-lo com palavras vãs, só posso sucumbir ao sublime, ao não dito.

Eu, em um dia qualquer, de um ano qualquer, em um lugar qualquer, de um minuto qualquer, de uma hora qualquer...recebo a mais tenra proposta in(decente) de um desconhecido bem “íntimo” na distância. Confesso também ter sido a proposta mais inesperada e desafiadora. A minha reação foi totalmente inusitada (para uma jovem provinciana que mal acabou de conhecer essa aldeia global tecnológica chamada Internet), aceitei em meios a titubeios normais e naturalmente superados.


Pois bem, não quero terminar com caráter conclusivo, assim, só resta-me não terminar, terminando... Transfiro a continuação ou final sempre inacabado por conta do tempo, dentro de um espaço aberto ao diálogo, às críticas, aos sentidos...Deixo o portão da ilusão desabrochar, a gaveta cheia de reflexões interditas, a porta da alcova (des)arrumada, a janela do coração aberta, o curral a mercê do vento, para você adentrar... E quero agradecer desde já pela presença e o possível comentário.

Beijos afagados!


Astréia